O Cérebro com TDAH e a 'Paralisia do Autocuidado': Entendendo a Luta para Comer e se Cuidar. Entenda como a Nutrição Comportamental pode te ajudar

nathaliagheventer
9 de jul.
3 min de leitura

Você sente uma 'paralisia' para realizar tarefas básicas de autocuidado? Entenda como se dão as as funções executivas e a alimentação no TDAH. Descubra uma abordagem de cuidado nutricional em Brasília.

Você já se sentiu completamente paralisado(a), com uma lista mental de tarefas simples (como preparar uma refeição ou tomar banho), mas incapaz de começar qualquer uma delas? Para muitas pessoas Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), essa "paralisia do autocuidado" é uma realidade frequente e dolorosa, muitas vezes acompanhada por uma culpa imensa.

A verdade é que isso não tem nada a ver com preguiça ou falta de vontade. É o seu cérebro trabalhando de uma maneira diferente, dentro do espectro das neurodivergências. Vamos entender o porquê.

O que são Funções Executivas e por que elas funcionam no TDAH?

Imagine que o seu cérebro tem uma "torre de comando" responsável por gerenciar todas as suas ações. Essa torre são as suas funções executivas. Elas ajudam você a:

Iniciar uma tarefa: Dar o primeiro passo para fazer algo.
Planejar e organizar: Dividir uma tarefa grande (como cozinhar) em pequenos passos.
Regular as emoções: Lidar com a ansiedade ou o estresse sem que eles dominem tudo.
Mudar o foco: Sair de um estado de angústia para um de ação.

No cérebro com TDAH, durante momentos de estresse ou sobrecargaessa, essa torre de comando pode sofrer um "curto-circuito". De repente, a dificuldade paralisante de começar uma atividade não é uma falha de caráter, mas sim uma questão neurológica real.

Quando seu Corpo "Sussurra" e o Cérebro Não Ouve: A Interocepção no TDAH

Você já se deu conta de que estava com muita fome ou sede apenas quando o desconforto já era extremo? Isso tem nome: interocepção, a capacidade de perceber os sinais internos do corpo.

Estudos mostram que pessoas TDAH podem ter essa percepção alterada. Seu corpo pode estar "sussurrando" que precisa de água ou comida, mas o cérebro, ocupado com outros estímulos ou sobrecargas, simplesmente não "ouve" o recado.

Por que a Escolha Mais Simples é a Mais Inteligente?

Pense em um dia de crise. A ideia de cozinhar parece uma montanha impossível de escalar. Você vê uma banana na fruteira e come. Depois, talvez outra.

Em um momento de pane no sistema, seu cérebro instintivamente encontrou a solução com a menor sobrecarga possível:

Não exige planejamento: Sem receitas, sem panelas, sem pratos.
É fácil de acessar: Basta pegar e descascar.
É sensorialmente previsível: O sabor e a textura são sempre os mesmos, o que é um porto seguro durante uma sobrecarga emocional.

É uma vitória imensa sobre a inércia. É imensamente melhor do que não comer nada e ficar longos períodos em jejum, o que pode gerar riscos nutricionais. Por isso que um acompanhamento nutricional e individualizado é muito importante, especialmente se levando em consideração momentos de crise.

Como a Nutrição Comportamental Ajuda? Um Olhar de Cuidado e Estratégia

Aqui em meu consultório, presencialmente em Brasília e online para todo o mundo, o objetivo não é entregar um cardápio idealizado e "perfeito" que será impossível de seguir em dias difíceis. Nossa abordagem é baseada na neurodiversidade e especialmente em dias de crise, iremos:

Validar suas ferramentas: A banana funcionou? Ótimo! Ela foi uma ferramenta de enfrentamento bem-sucedida. Vamos partir daí, sem culpa.
Reduzir a demanda: Estabelecemos um piso de segurança para estabilizar o sistema, e posteriormente pensar em outras variáveis, como melhorar a qualidade nutricional.
Criamos estratégias de baixa demanda: A ideia é ter um "cardápio de crise" com opções fáceis e nutritivas.

Entender e respeitar o funcionamento do cérebro com TDAH é o primeiro passo para construir uma relação mais gentil e funcional com a comida e o autocuidado.