Mais que Seletividade: O que é TARE (Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo)?

Seu filho come apenas um grupo seleto de alimentos? Ou talvez você, adulto, sinta um medo paralisante de engasgar ou passar mal ao comer? Muitas vezes, essas dificuldades são rotuladas como "frescura" ou "mania", mas a realidade pode ser muito mais complexa.

Hoje vamos falar sobre o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE), também conhecido como ARFID (Avoidant/Restrictive Food Intake Disorder).

Como nutricionista que oferece atendimento online para todo o Brasil e presencial em Brasilia, vejo diariamente o sofrimento e a confusão que a falta de informação sobre o TARE pode causar. Meu objetivo aqui é trazer clareza e mostrar que existe um caminho de cuidado e compreensão.

O que é, de Fato, o Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE)?

De forma resumida, o TARE é uma dificuldade persistente em comer o suficiente para atender às necessidades do corpo. Essa restrição não acontece por falta de comida disponível ou por práticas culturais. Ela é tão significativa que pode levar a consequências sérias, como:

• Perda de peso acentuada ou, em crianças, uma falha no crescimento esperado.

  
  

• Deficiências nutricionais importantes, que afetam a saúde como um todo.

  
  

• Dependência de suplementos nutricionais ou, em casos mais graves, de alimentação por sonda.

  
  

• Um impacto negativo na vida social, como não conseguir comer com amigos ou familiares.

  
  

O ponto mais importante para diferenciar o TARE de outros transtornos é que ele não está ligado a um medo de ganhar peso ou a uma distorção da imagem corporal, como na Anorexia Nervosa por exemplo. A motivação para a restrição é outra.

As Três Faces do TARE: Entendendo as Causas

O TARE não tem uma causa única. Geralmente, ele pode se manifestar de três formas principais, que podem até se sobrepor:

1. A Sensibilidade Sensorial: Quando a Comida é uma Sobrecarga: Para algumas pessoas, o mundo sensorial é muito mais intenso. Cheiros podem ser fortes demais, texturas podem ser sentidas como algo aversivo e gostos podem ser invasivos.

• Previsibilidade é segurança: Alimentos naturais, como frutas e legumes, são imprevisíveis (uma fruta pode estar mais doce, outra mais azeda). Por isso, a preferência por alimentos ultraprocessados, que têm sempre o mesmo sabor e textura, se torna um porto seguro.

2. O Medo que Alimenta a Restrição: Essa apresentação do TARE pode surgir em qualquer idade e é causada por uma experiência traumática com a comida.

• Gatilhos Comuns: Ter engasgado, vomitado, sentido uma dor forte ou tido uma reação alérgica após comer algo pode criar um medo intenso que leva a pessoa a evitar aquele alimento ou até grupos alimentares inteiros. Os rituais alimentares podem surgir como uma tentativa de controlar a situação para não passar mal novamente.

3. A Falta de Interesse em Comer: Neste perfil, a pessoa simplesmente não tem muito interesse pela comida. Ela pode não sentir fome com frequência, ou ficar satisfeita muito rápido ou ver o ato de comer como uma obrigação, uma tarefa a ser cumprida.

• Raízes Biológicas: Pesquisas indicam que pode haver uma base neurobiológica para isso. O cérebro dessas pessoas pode não responder aos sinais de apetite da mesma forma, gerando uma baixa recompensa ao comer.

  
  

A Importância do Diagnóstico e do Cuidado Especializado

O TARE é uma condição real, com bases neurobiológicas, e não um problema de comportamento. O diagnóstico precoce é fundamental para evitar prejuízos nutricionais e sociais e para que a pessoa e sua família recebam o suporte adequado. As condições mais comuns que ocorrem junto com o TARE costumam ser o TDAH, Autismo e o TOC.

O tratamento deve ser multifatorial, visando os mecanismos por trás do transtorno: a sensibilidade, a ansiedade e o apetite. Como nutricionista, meu papel é criar um plano de cuidado individualizado e respeitoso, que valide a experiência do paciente e o ajude a expandir seu repertório alimentar de forma segura e gradual.

Se você ou alguém que você ama se identifica com esses desafios, saiba que não estão sozinhos. Existe ajuda especializada e, através do atendimento online ou presencial em Brasilia, é possível receber esse cuidado onde quer que você esteja.